Poetas da Saudade

Este é um espaço criado para que possamos escrever a nossa saudade e desaguar um pouco da dor que sentimos com a perda do SAID. Não somos escritores ou poetas, não temos, portanto, compromisso com os padrões literários.
         Meus escritos são filhos da dor, e já nascem batizados pelas lágrimas. São,  portanto, salobros. Mas ao vir à luz, cumprem uma função higiênica, que é a de trazer as impurezas das lágrimas retidas e do sangue pisado. Daí o alívio momentâneo.




Amar o Perdido/
Deixa Confundido Este Coração/
Mas as Coisas Findas/
Muito mais que lidas/
Estas ficarão.
(Fernando Pessoa)



UM ANO SEM O SAID





“A ilusão conveniente é servida de um  só gole;

a verdade amarga, a conta-gotas” .

Do  livro A Ilusão da Alma – Biografia de Uma Ideia Fixa

 Eduardo Giannetti.,

      Resiliência, do latim, resilíre, não era uma palavra conhecida por mim até há pouco tempo. Embora eu fosse, sem saber, um resiliente. O termo vem da física e refere-se a capacidade que um material tem de suportar impactos ao ponto de se deformar, mas, ainda assim, conseguir voltar a forma anterior; ou do individuo para lidar com traumas, sofrer ao extremo, mas, a partir de um determinado ponto, reatar o fio condutor da sua vida e recomeçar.

     A morte prematura do meu filho Said Rogers, foi, para mim, dilacerante. Acredito que para muitos de nós. Uma tristeza profunda se apoderou de mim. Não desejei somente abandonar projetos, mas a própria vida fazia pouco sentido. Embora deformado para sempre, pois tenho ciência de que jamais voltarei à forma anterior, ainda assim, já iniciei o processo de recomposição. Sou, portanto, resiliente.
      Estamos em maio, e no próximo dia 24 completa-se um ano da morte do Said. Faz parte da nossa cultura acidental, falar o mínimo possível da morte. E quase nada dos mortos. Por isso resolvi e escrever aos parentes e amigos do blog http://www.saidrogers.blogspot.com.br/

     Embora compreenda o desconforto que as pessoas sentem de falar sobre o assunto, às vezes por medo de encarar a realidade, que é a finitude do ente querido, não percebo vantagem nesse comportamento. Primeiro, porque ao  rejeitarmos a morte e o sofrimento, que são partes integrantes do ciclo da vida, e com os quais teremos encontro certo, queira ou não, criamos a falsa sensação de que estamos protegidos, e desabilitamos nossas estratégias para lidar com adversidade; segundo, porque ao colocarmos nossos mortos à sombra da memória, estamos sendo ingratos com aqueles que nos amou. Na verdade, estamos condenando-lhes a uma segunda morte, o esquecimento.

     Eles não podem ditar a rotina dos vivos, de forma alguma se transformar em limitação ao pleno ato de viver. Não é disso que se trata. Nossa dívida com o Said, diz respeito à sustentação da sua memória. Lembrar aos seus filhos, Juan Pedro e Júlia, dos projetos, desejos e o futuro que vislumbrava para eles. Isso pode torná-los não somente comprometidos em honrar o pai, como, sabendo o quanto foram amados, mais confiantes.

     Dai não ser a escuridão da memória, o lugar mais adequando para guardá-lo. Nunca ele andou tão próximo de mim. Apresento-lhe a cada novo amigo, porque avivar a sua memória é minha missão. O Juan, numa lembrança saudável, encaixa o nome do Said em várias ocasiões, e isso lhe  faz bem.

- meu pai me ensinou isso; é a cara do meu pai, etc. Já ouvi, para minha alegria, ele se referir ao Said várias vezes. Quanto a Júlia, pela pouca idade, cabe-nos a tarefa de não deixar a memória do pai morrer nela.

     O blog está aí, pouco movimentado; ausências são notadas, mas aos poucos, espero que cada um que teve a ventura de conviver com o Said, traga-lhe novamente à flor da memória. Divulguem o blog, digam para os seus amigos que um dia uma pessoa maravilhosa fez parte da sua vida.  


            Abraço a Todos!



QUE FALTA ME FAZ UMA SAUDADE

Oh! Que falta me faz uma saudade. Daquelas doloridas mesmo. Que nos deixa tristes por muito tempo, pode até roer as entranhas, fazer-nos enjoar a comida, fugir dos amigos e acordar-nos à noite, na solidão, para beber e chorar a dor da perda. É ruim. Mas é uma saudade, e como tal deve ser tratada. É duro reconhecer o fracasso da separação,   do amor perdido, da ingratidão, da ofensa  e da humilhação. Isso é muito, mas não é tudo. Racionalmente, ficamos frustrados, por vezes, deprimidos. Entretanto, do embate da razão com a emoção, do desejo de vingança ou de perdão, sobra-nos, embora tênue, um raio de esperança de que a batalha ainda não chegou ao fim, e esse sentimento é fundamental para amenizar a dor.
                Com relação à morte, esta malvada que invade e consome as nossas vidas, é diferente, por que é deste ponto que ela parte: da destruição dos nossos sonhos e da certeza do fim.  Não somente do fim do nosso ente querido, mas, principalmente das nossas ilusões. E o homem, absolutamente, não foi moldado para lidar com a razão; sonhos e ilusões nos acolhem melhor.
(do pai: Dilailson)


Saudade traz o perfume
de tudo o que já passou;
a saudade é um vagalume,
resto de luz que ficou.

(In Minha Terra Tem Palmeiras/Clóvis Ramos/1970)



Malvada que arrebenta no meu peito!
Não tem mais  jeito?
Ou serás tu o próprio, e eu ingrato,
Que insiste em quebrar o trato.
Diz-me, oh dor, sem ti seria infarto?

Sinto o Said em mim,
Ou eu sou ele?
Que ainda habita no meu ser!
És meu ou dele esse sofrer?


Nos detalhes do seu filho vejo pai,
Sorriso que atenua o meu sofrer.
Semelhança que aguça meus sentidos,
Na esperança do homem que vais ser.

O Juan carrega dele,
O símile quase perfeito.
Era dele o seu andar,
Que recebeu por herdar,
 E que hoje tem por direito.

Herdou a Júlia os seus olhos,
Para iluminar o mundo.
E pra quando nela olharmos
Mesmo pra nos enganarmos
Termos com o Said num segundo.

(do pai: Dilailson - 19.11.2011 07:51)



“Presença de Meu Filho”

Morre o padre, o médico e o operário; o juiz, o pedreiro e o lenhador. Morremos todos. Mas os poetas não podiam morrer, porque sem estes teríamos enormes dificuldades de encontrar as palavras apropriadas e não sabíamos expressar nossos sentimentos – pior, nem sabíamos realmente o que estávamos sentindo, pois se não existe uma palavra para definir algo, este não existe. Que importância tem nossos saberes, nossas idéias e sentimentos, se não tivermos as palavras certas para vivificá-los?
            Sem os poetas, sequer nos apaixonávamos. Quem saberia definir o amor nesses termos:
 “amor é fogo que arde e não se ver. É ferida que dói e não se sente, é um contentamento desconte/ é dor desatina sem doer...”, não fosse  Camões. Sem Dante, o inferno não  existiria,  pelo menos como o conhecemos hoje; como não existiria a Ilíada sem Homero. Precisamos dos poetas para nos apoderar das concepções mais básicas às mais complexas. São deles que tomamos de empréstimos o suporte filosófico para ligar o pensamento à ação.
            Outro dia percebi que estava mimetizando ao meu filho Said Rogers, recém-falecido. De repente eu estava usando a sua voz, seus gestos, seu olhar e aquela andar não era  meu, e sim dele; como dele é este ar pensativo que me envolve. Seus gestos, paulatinamente transferidos a mim. Agora eu sou ele. Involuntariamente assimilei e em seguida  apoderei-me dos seus gestos. É dele agora a maneira como me comporto em dadas ocasiões.
Parte do que acontece, tem explicação na genética: éramos parecidos. Entretanto, eu nunca havia percebido isso com tanta clareza. Agora mesmo, enquanto escrevo, respondi a uma pergunta da Célia. Não como responderia de costume,  mas o fiz  monossilabicamente como ele faria.  Antes não havia dado atenção a maneira como  gesticulo com as mãos enquanto estou falando, mas agora vejo-me  fazendo igual ao que ele fazia, e minha dúvida é se eu sempre fiz assim, ou é ele quem, agora, faz por mim.
- Said, você quer um sanduiche?
 – Pode ser! É assim que eu  também passei a responder.
            Estou vivendo um dilema idêntico ao de um rei que senhor que era uma borboleta. Mas o sonho foi tão intenso que ao acordar não sabia mais se era um rei e havia sonhado  ser uma borboleta, ou, se realmente era uma borboleta e estava sonhando ser um rei. Said morreu e está em mim, ou fui eu quem morreu e agora habita nele?
            Não sei explicar, mas imagino ser uma compensação criada pelo  subconsciente para me proteger da certeza cruel de que não nos verei jamais. E como não mais posso vê-lo, vejo-o constantemente em mim.
            Fiz alguns testes para comprovar minha sanidade mental e me parece não ser nada grave, mas se fosse não teria menor importância diante da Presença de Meu filho, que mais conforta do que  afligi.
Concluo agradecendo ao poeta acreano José Guilherme Araújo Jorge, autor do poema “Presença de Meu Pai”, a quem peço desculpas pelo plagio, sem o qual, reconheço, não saberia materializar estes sentimentos.
(do pai: Dilailson,02.10.2011- 23:15)




Sua presença em mim,                                   
Ainda é forte e sofrida,                                  
Igual ao amor perdido
Do melhor da nossa  vida.

A cada dia a saudade,
Bate mais forte e doída,
E arrebenta a casca fina,
Que não protege a ferida!

Roi-me, às vezes, as entranhas
Oh! Sofrimento cruel,
Gemido, dor, desatino
És  tu, dor, supremo fel.

Sinto-me, assim, miserável,
Sem nada a me socorrer,
Meu alimento é a dor,
Meu desafio é viver.

Nunca pensei que meus dias,
Guardavam tanta surpresa,
Nem que o destino arrancava
Dos meus olhas uma beleza.

Nunca pensei que meu peito,
Suportasse esse punhal,
De aço cortante e gélido,
Feito uma adaga do mal.

Vejo meu filho em mim,
Ou, melhor nele me vejo
Por ele eu beijava a morte!
Porque a morte eu beijo?
(do pai: Dilailson)



Said era afável, tinha um sorriso fácil e olhar penetrante. Havia no semblante um misto contraditório de timidez e autoconfiança, o que, às vezes, não nos permitia captar seus sentimentos, que podia ser uma alegria triste ou uma tristeza alegre. De raciocínio rápido, fundamentava bem os seus argumentos e, principalmente, sabia falar e calar na hora certa, reclamando seus direitos, sem extrapolar os limites do razoável.
Tivemos idéias divergentes, defendemos pontos de vistas opostos, mas nunca faltamos com o respeito mútuo.
Daí a minha gratidão por ter chagado até a mim, um e-mail que a Professora do Said, Dra. Ivanete Gomes, mandou para outro aluno da Faculdade, colega do meu filho – que reproduzimos abaixo. Pareceu-nos claro, que aquela Mestre tem o dom de captar e reter o estado psicoemocional das pessoas, mesmo que  habitem no esconderijo da  alma,  de outra forma não havia como se manifestar com tanta precisão a respeito do Said. Ela poderia ter sido apenas simpática usando clichês, mas não foi isso. Suas palavras foram verdadeiras, digo isso menos por ter satisfeito o meu ego, mas porque confirmou às minhas impressões sobre o Said,  mas que não esperava que fossem as mesmas da sua Professora. Como ela não o via, há mais de dois meses, reforço a idéia que, apesar de muitos, ela guarda a singularidade dos seus pupilos.

               Said não foi melhor e nem pior do que eu. Fomos diferentes, porque o mundo nos pertenceu em estações diferentes. Foi educado mais cedo, conheceu coisas que eu só viria conhecer bem mais velho, e certamente teve menos dificuldade. Mas, como eu,  também assumiu compromissos precocemente e cedo precisou trabalhar.  Casou mais jovem, sofreu suas crises conjugais dez anos mais novo e, acredito, teria superado primeiro.
                  Fazendo um balanço, não tenho dúvidas em afirmar que me arisquei mais do ele, cometi mais erros, omissões e negligência. Portanto, desse ponto de vista, não há como deixar de perceber que o desfecho dos acontecimentos foi desproporcional à sua exposição.
Mas, comparado a mim, ele era, sim, um homem extremamente confiante. Não sei se com isso estaria elogiando ou criticando comportamentos, mas apenas registrando fatos. Até acho que esse excesso de autoconfiança, aliada a sua boa fé tenha lhe prejudicado. É difícil explicar como uma pessoa que freqüentou cursos universitários, exercia profissão de risco e estivesse concluindo um dos melhores curso (Bacharelato em direito), possa ser chamado de ingênuo. Não o era no sentido largo da palavra, mas sim, com referência a sua estréia desastrada na vida boêmia. Said morreu credor de uma oportunidade que  modificaria radicalmente a sua trajetória para melhor. Curado do sinistro e consciente do quão era querido pela família, teria nascido outro homem – outro filho, outro pai, outra mãe e outra esposa. Ou seja, Said não se modificaria sozinho, teria levado e elevado todos nós a patamares superiores. (do pai: Dilailson)



A saudade é companheira,
De quem não tem companhia,
Toma café com a gente,
Retorna na cama fria.

Não abro mão dessa dor,
Que é companheira fiel,
A relembrar que  estou vivo,
 E a dividir comigo,
 A taça amarga do fel.

Se estás sofrendo ainda vive!
Fica ela a me lembrar,
Egoísmo é não querer.
 A parcela do sofrer,
Não podes tu rejeitar.

Se por desdita igual
meu semelhante sofreu,
Sei que é difícil aceitar
Mas é injusto alegar
Somente ele, e não eu?

Resignado eu aceito
A parte que me tocou.
Nessa divisão sinistra.
É dor a perder de vista,
Mas é só minha essa dor.

Ninguém sebe como é,
Somente que já sofreu.
A dor de perder o filho,
Tira qualquer do trilho,
Porque foi ele e não eu?

Se somos barcos de genes,
Pra vida perpetuar,
Assim não vejo sentido
Do nosso filho querido,
Morrer e o pai  ficar.

Mas Said foi cuidadoso,
Deixo-nos dois lindos netos.
Descendências garantida!
Isso justifica a vida,
São dois meninos espertos.
(do pai: Dilailson)


Perdoar a mim é perdoar o Said

Na época do Buda, uma mulher chamada Kisagotami sofreu a morte de um seu único filho. Sem conseguir aceitar o fato, ela corria de um ao outro, em busca de um remédio que restaurasse a vida da criança. Dizia-se que o Buda teria esse medicamento.
Kisagotami foi ao Buda, fez-lhe reverência e apresentou o seu pedido .


- O Buda pode fazer um remédio que recupere meu filho?
- Sei da existência desse remédio, respondeu o Buda. Mas para fazê-lo preciso de certos ingredientes.
- Quais são os ingredientes necessários? -  perguntou a mulher aliviada.
- Traga-me um punhado de sementes de mostarda, disse o Buda .

A mulher prometeu o ingrediente para ele; mas, quando ela estava saindo,  o  Buda acrescentou um detalhe :
- Exijo que a semente de mostarda seja retirada de uma casa na qual não tenha havido morte de criança, cônjuge , genitor ou criado .


A mulher concordou e começou a ir de casa em casa à procura da semente de mostarda. Em cada casa as pessoas concordavam em lhe dar as sementes, mas quando ela perguntava se havia ocorrido alguma morte naquela residência, não conseguia encontrar uma casa que não tivesse sido visitada pela morte. Uma filha nessa aqui, um criado na outra, em outras um marido ou pai haviam morrido.

Kisagotami não conseguiu encontrar um lar que fosse imune ao sofrimento da morte. Vendo que não estava só na sua dor, a mãe desapegou-se do corpo inerte do filho e voltou ao Buda que disse com enorme compaixão:
- Você achava que só você tinha perdido um filho . A lei da morte consiste em não haver permanência entre todas as criaturas vivas.   (Extraído do livro A Arte da Felicidade, de Dalai-Lama e Howard C. Cutler)

            Acredito que o primeiro degrau para lidar com a dor pungente da perda de um filho, seja o entendimento de que ela não nos foi propositalmente direcionada. Não fomos escolhidos para determinada fatalidade. Mas, simplesmente aconteceu, assim como também nos acontecem coisas boas. Isso não aplaca o sofrimento em si, mas abre um via para aceitação dos fatos, porque elimina o sentimento de injustiça, seguindo das clássicas perguntas – porque comigo? Como viventes, estamos integrados ao cosmo e, portanto, passivos das suas oscilações naturais que podem nos atingir para o bem ou para o mal.
                                                                                                                               
            Outro ponto importante para que possamos lidar sem maiores surpresas com as desgraças, é buscar entender que o sofrimento, que tanto procuramos rejeitar, é parte integrante do ciclo da vida. Buscamos e valorizamos a felicidade, às vezes nos enganando com verdades forjadas na sociedade contemporânea, de que a temos por direito. Esse entendimento,  potencializado pelo progresso científico, que nos proporciona conforto e prazer incomparáveis, tem suas raízes no pensamento dos filósofos ocidentais, porém, desvirtuados. Aristóteles, por exemplo, afirmava que a felicidade é o objetivo último da humanidade. Daí não foi longo o caminho para se concluir que o destino do homem é a felicidade. Ora, o objetivo a que se referia Aristóteles, é compreendido melhor como sendo uma busca eterna da felicidade, e não o homem sendo impulsionado para ela por direito divino. O conceito de felicidade é elástico. Teria ela para Aristóteles, que viveu há mais de dois milênios, o mesmo sentindo que tem para nós? Perece-me que não. Para um estóico, apenas como exemplo, uma vida de privação, poderia muito bem ser a sua fonte da sua felicidade.
            Portanto, mais correto, embora doloroso, é entender que o sofrimento, isto sim, é uma condições inerente ao homem, posto que vai lhe ocorrer, invariavelmente, que ele busque ou não.  Todo homem, uns mais outros menos, mas todos sem exceção sofreram. Ao passo que muitos nascerem e morreram sem receber a visita dessa senhora.
Nossos antepassados, certamente, sofreram mais, pois ainda não dominavam os mais corriqueiros fenômenos naturais, e assim estariam expostos aos seus efeitos danosos. Aos poucos, graças ao progresso tecnológico, fomos nos distanciando das catástrofes naturais, controlando as epidemias e o clima. Até as guerras mudaram radicalmente. Num futuro muito próximo serão apenas as máquinas brigando contra suas similares e destruindo a infra-estrutura de outra nação, sem a necessária participação de ser humano no front.
A falsa sensação de que estamos protegidos, fez-nos perder a naturalidade com que encarávamos os acontecimentos,  e solapou a capacidade que tínhamos para lidar com o sofrimento e a morte.
            Habituamos-nos a imaginar a morte como uma seqüência lógica do ciclo vital, onde há uma fila imaginária por ordem cronológica.  Mas a frase: -  é natural que o filho sepulte o pai,   encerra apenas uma verdade biológica,  dissociada dos fatores caóticos que dominam o universo.
Nossos ancestrais moldaram a civilização, em grande parte, guerreando. Portanto, a guerra não pode ser excluída do rol das catástrofes naturais – pois quase sempre  tem como objetivo o domínio dos bens naturais. E, em que pese serem decretadas por homens adultos, são os jovens que vão sacrificar suas vidas no campo de batalha. Imagino que muitos dos nossos antepassados tiveram de amargar a perda de todos os seus filhos homens nos conflitos tribais, e que este foi o preço que pagaram pelo progresso que hoje usufruímos.
            A tentação errônea de imaginar o mundo como algo lógico e ordenado, fruto de um criador sábio e  bondoso, que tudo sabe, ver e controla, pode nos deixar ansiosos e contrariados, pois, sendo assim, não podemos calar a pergunta: porque Ele nos escolheu para o sofrimento? Se não praticamos boas ações passamos a nos culpar pelo castigo; se, por outro lado, praticamos boas ações, vem-nos o exemplo de Jó. Ora, porque  tanto dificuldade para entender que o caos impera no universo, e que o nosso sofrimento, salvo exceções, não tem relação com o que fazemos ou deixamos de fazer.
            Entendo que amenizaria o meu sofrimento, imaginar que um Deus bondoso teria as “inescrutáveis” razões para chamar o meu filho; que em outra vida nos encontraríamos. Infelizmente, não vejo as coisas por esse ângulo, nem acredito que fingir me ajudaria.
 Ainda não descobri  como superar esta dor aguda e fria que punge em mim, sufocando peito. A verdade nua e crua de que jamais verei meu filho, é aterradora. Mas é, sem atenuantes, o que se apresenta para mim.
            Como fazer para honrar o Said? Ele era o amigo que eu tinha e não prestigiava. O filho que eu tanto queria, mas pouco cuidava. Hoje, o nome disso é remorso. Mas isso não vai trazer algo de edificante para mim, como também não trará recompensas postumas o Said?
Sendo assim, não tenho alternativas que não seja aceitar o sofrimento como algo natural a minha existência; entender que eu e o Said, estaríamos mutuamente receptivos a perdoar as fragilidades do outro. Por último, ter a consciência de que nossos sonhos transcendem às nossas vidas. Portanto, morreu o Said, mas os seus sonhos e os seus desejos não morreram!
            Ora, porque fazemos seguro de vida, se por tradição não somos nós os beneficiários? Porque projetamos o bem-estar da família para além da nossa existência. Pois bem, serei eu a apólice do Said, no sentido de velar pelos seus filhos enquanto me for permitido, procurando aproximá-los dos objetivos visualizados pelo pai. Até porque ele viveu e morreu confiante em mim, e fiz questão de reforçar essa crença nos seus momentos finais.
            Pois bem, caríssimo amigo. Agora, que acertamos nossas contas com o passado,  podemos nos separar em paz. Você, viajante etéreo a escalar as estrelas; eu seu fiel procurador, a zelar pelos seus filhos e honrar a sua memória.  Desejo, meu amado filho,  que se um dia nos encontrarmos noutro sonho eu não tenha vergonha de olhar nos teus olhos.

Adeus,
Said Rogers.
(do pai: Dilailson)



Porque Não Me deixam Chorar!

                A sensação de perder um filho é simplesmente terrível! Sinto-me como  se tivessem me empurrado num precipício e encontro-me num processo de queda livre nesse vácuo sem gravidade. Onde irei parar?  Como será, doravante, a minha vida sem a presença do Said? Meus projetos e meus sonhos – como acomodarei tudo isso? Não é menor a minha confusão mental na busca de entendimento das coisas.
                Mas a dor é minha. Só minha, na qualidade de pai; como é só da sua mãe na dimensão que lhe pertence. Esposa, irmãos tios, avós, sobrinhos, a família como um todo, e seus amigos, cada um sofre a sua maneira e na proporção da importância que o falecido tinha nas suas vidas. Mas a minha dor, e embora ainda não saiba o tratamento que lhe darei, não gostaria de dividi-la  com ninguém, muito menos que ela seja usurpada. Ora, se o filho é meu e a dor a minha, por conseqüência, tenho o alienável direito de sofrê-la na sua plenitude: ficar triste, chorar, hibernar e deprimir sem ter que dar satisfação a ninguém. Era assim no século passado, do qual herdei os anos, mas não os costumes. Naquele tempo, os parentes mais próximos vestiam-se de preto para externar o luto; os mais distantes colavam uma tira de pano preta por cima do bolso da camisa, e cada um pedia mergulhar na sua angústia sem as cobranças que temos na sociedade contemporânea e, principalmente, sem a pressão do tempo. Em resume: erram-lhes permitidos sofrer o luto pelo tempo necessário.
                Convenhamos! Não choro somente pelo Said. Não seria eu também hipócrita para negar que choro, muito mais por mim. Chorei pelo seu sofrimento durante 65 dias lutando pela vida,  chorei pela falta que ele fará aos seus filhos, Juan Pedro e Júlia, de seis e dois anos, respectivamente. Chorei diante da ameaça de perdermos, como perdemos, a oportunidade de reparar as nossas omissões. Digo nossas, sim. Said seria outro filho, eu outro pai. Embora houvesse carinho, admiração e respeito mútuo, o relacionamento pai-filho,  não estava, reconheço, totalmente resolvido. Portanto, hoje, já não choro mais pelo Said, porque entendo que não lhe faria a menor diferença. Said foi um homem de caráter, que sabia reclamar seus direitos, na medida certa,  sem ofender as pessoas. Prometi  fidelidade à sua memória e sei que se fosse ao contrário, ele faria o mesmo. Comigo, ao partir, ele ficou quite; com ele, se não fiquei, já não tenho mais a oportunidade de fazer algo para compensá-lo diretamente. Quem sabe, não seja esta dor a moeda de troca que libertará a minha consciência para fazer as pazes comigo mesmo, ou o remédio amargo que vai mitigar a essa dor, se for quero tomar na dose certa e pelo tempo que for preciso.
                Porque tenho eu a obrigação de ser forte, de suprimir as lágrimas que afogam o meu peito e de superar rápido, essa dor, que, repito, é só minha. Não posso e nem quero fazer de contas que estou bem, nem preciso ouvir palavras, tais como: “isso vai passar, seja forte, você via superar logo”. Mas como vai passar? Essa dor eu não pedi, eu nem queria. Mas agora, que perdi para sempre a presença física do meu filho, à beleza do seu sorriso e a sua voz a dizer “meu pai”, porque então deixar essa dor ir embora, deixando-me vazio de sentimentos..
– Oh, dor! Não vá embora, façamos as pazes. Peço-lhe apenas que seja mais discreta e não oprima tanto o meu peito; ou seja, você se manifestaria menos intensa e, em troca, eu te daria morada eterna;  outros sentimentos serão, desde logo, comunicados de que só permanecerão em mim se tiveram a grandeza de te aceitar como vizinha.
(do pai: Dilailson)

“Às vezes, quando sentimos a falta de alguém, parece que
o mundo inteiro está vazio de gente.”
Lamartine


                                             
A Evolução Natural da Vida é a Morte

     A constatação da morte talvez seja a única maneira de tomarmos consciência de que estamos vivos, e mobilizar-nos para a ação. Do contrário, ao procurarmos varrer essa senhora para os esconderijos da mente, acreditando que ao não ser lembrada, ela nos esquece, não passamos de vivos mortos.
 Não esquece! Não diria que nos pega de surpresa, porque nada é tão certo e anunciado quanto a sua visita. Portanto, não podemos enganar a morte e nem somos por ela enganados. Nós é que, buscando dissimular a sua inexorabilidade, fingimos não ouvir seus sussurros.
Ao aceitarmos a morte como essência da vida, tiramos mais proveito da vida do que praticando a negação. Quem não já presenciou alguém cortar bruscamente uma conversa quando  descamba para questões existências?  Não se trata apenas de um comportamento individual, mas cultural, que tem suas raízes ficadas nas teorias do hedonismo, tão bem postadas ao gosto acidental de buscar o prazer a todo custo, em detrimento de tudo que possa causar desconforto.
Por isso, para não perturbar a paz, fugimos do debate existencial – como a morte, por exemplo -  posto que ele trás a tona verdades com as quais não queremos lidar. Urge que resgatemos sabedorias antigas, como aquela que obrigava o general romano,ao entrar em Roma - vitorioso das batalhas-  ouvir do seu escravo, a cada quinhentos metros: “Lembra-te que és mortal!”
Sabemos que a realidade é dura, mas, por vezes,  é a única que temos, e sua negação não nos deixa menos fragilizados. Pelo contrário. Ao aceitarmos o que não pode ser mudado, tomando consciência das nossas limitações, podemos, positivamente, dar um rumo melhor as nossas ações, como por exemplo, privilegiando a qualidade dos relacionamentos, cuidando melhor das pessoas e evitando postergar decisões infinitamente.
(do pai: Dilailson)

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segunda-feira, 22 de março de 2010
MINHA MORTE
 Confesso que morrer não está nos meus planos, embora saiba que é impossível evitar o encontro com a senhora vestida de cetim. Fiz um acordo com ela: não falo mal dela e ela só virá me buscar quando eu cansar de viver, quando o corpo não acompanhar mais a mente ou quando a mente também tenha se desgastado e perder a sua função. A idéia de morrer me assombra. Não que tenha medo do que há de vir, mas é resistência em deixar coisas e pessoas que tenho por preciosas e não gostaria de me separar, mesmo que as promessas acerca do lado de lá me façam acreditar que lá é muito melhor. Certamente é melhor, mas prefiro pessoas a lugares, o céu será ter as pessoas que amo bem pertinho de mim, portanto enquanto puder preservá-las ao meu lado, prefiro não ir. Aqui recorro ao teólogo Mario Quintana: “Morrer: Que me importa? O diabo é deixar de viver”.
Embora esteja seguro acerca do tempo da minha morte e do que me espera do outro lado da jornada, duas outras preocupações me inquietam. Na minha ingenuidade juvenil não as inclui na negociação com a senhora da foice. A primeira é o momento. Será que terei tempo de concluir as tarefas planejadas? Será que terei tempo de fazer o elogio à pessoa querida? Será que irá me esperar perdoar ou ser perdoado? Terei tempo para a última dança? Terei tempo de ver e de me despedir das pessoas amadas? Terminarei de ler aquele livro? A segunda, e não menos importante, é a forma da minha morte. Como diz o Pedro Bial: morrer é ridículo. Na linguagem do poeta a forma da minha morte é “uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida”. Não sei o que seria pior: uma morte súbita ou uma morte anunciada, de sofrimento prolongado. Um acidente com sua fatalidade instantanea ou uma enfermidade cronica e mui dolorosa. O fato é que morrer seja por deixar de viver, seja pelo momento ou pela forma, não está nos meus planos. Gostaria que colocassem num memorial dedicado à minha existência: morreu à contragosto.
Mas pra que não termine de forma melancólica esta minha fala devo dizer que a morte é o alívio necessário quando viver é só sofrimento, quando não há mais o que, nem porque se aprender algo novo. Há um momento na vida em que morrer não é tão ruim. aliás ousaria dizer com Gilberto Gil: “Se a morte faz parte da vida / E se vale a pena viver / Então morrer vale a pena / Se a gente teve o tempo para crescer / Crescer para viver de fato / ato de amar e sofrer / Se a gente teve esse tempo / Então vale a pena morrer / Quem acordou no dia / Adormeceu na noite / Sorriu cada alegria sua / Quem andou pela rua / Atravessou a ponte / Pediu bênção à dindinha lua / Não teme a sua sorte / Abraça a sua morte / Como a uma linda ninfa nua”.
Até lá, me recuso a morrer, aliás este assunto nem está nos meus planos pelos próximos 61 anos. Portanto a mim me resta viver tudo quanto há pra viver, me permitir não perder tempo com coisas pequenas e amar muito ...
Postado por Roberto Amorim às 11:33 



VERSOS DA MADRUGADA

Peito contrito, que ameaça inflar a todo instante,
Levando a morte instantânea esta mente delirante!
Memória atenta que lembra sem parar.
Lembranças de memórias que fazem o coração sangrar.

Alivia esta dor,  memória ingrata,
Ou então de um golpe só me mata!
Arranca de vez este punhal do peito,
Ou diz-me sem rodeios: não tens jeito!

Minha rima, doravante  amarga,
De lembranças batizadas com uma lágrima.
De tristeza minha alma veste o véu.
Dantes doce, meu verso virou fel.

Será que ao morrer cessa a memória,
 Este algoz que não deixa descansar,
Quem uma vez foi omisso com algum
De quem  nem  lembrou de pedir pra perdoar.

De tristeza meu o peito enche e dói
D’uma angustia que a mente desatina.
Coração que vacila quando ver,
Nos meus olhos, uma imagem na retina.

Será que meus órgãos contra a mim,
Deram todos agora a conspirar?
Até a memória ficou boa,
Sabendo que sofro com o lembrar.      
(do pai: Dilailson, 28.11.2011)

Canto Para A Minha Morte
Raul Seixas
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...
Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Composição: Raul Seixas / Paulo Coelho

15 comentários:

  1. Emocionante...

    Preciso de força emocional para continuar lendo...

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  2. "Saudade é um parafuso
    Que na rosca quando cai,
    Só entra se for torcendo,
    Porque batendo num vai
    E enferrujando dentro
    Nem distorcendo num sai".

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  3. Meu pai estava hospitalizado quando meu filho morreu. Olhava para meu pai e me sentia, profundamente, impotente... Não podia lhe falar da minha dor, não podia consolar... Tinha que esconder as minhas lágrimas. Após um mês, meu filho resolveu lhe contar, meu pai ficou abalado... E quando veio ao meu encontro, nós choramos juntos.

    Contamos a história do seu neto, a morte devido bactérias, o tempo que ele passou no hospital, E ele pegou alguns detalhes e ditou seu desabafo.

    Meu pai, homem humilde do campo, também é um artista. Quando jovem, era vocalista de uma banda de forró pé de serra formada pela própria família. Ele sempre gostou de poesia e expressou vontade de escrever um livro com seus versos. Ofereci-me para ajudá-lo. Segue, então, o Desabafo do Poeta:

    DESABAFO DO POETA

    Quando se pega bactéria e

    Infecções na UTI,

    É porque a coisa é séria

    E eles não estão nem aí.

    O problema de infecção

    É mesmo universal

    E não encontram solução

    Para combater o mal.

    Meu neto, um rapaz jovem,

    Talentoso e inteligente,

    Num acidente se envolve

    E fica muito doente.

    Tendo levado um tiro

    Perto do seu coração,

    No estômago, foi atingido,

    Ficando logo sem ação.

    No meio das incertezas,

    Ele foi transferido

    Para cidade de Fortaleza,

    Na UTI é socorrido.

    Sofre parada cardíaca,

    Mas sobrevive a ela,

    Porém, livre ele não fica

    Das temíveis bactérias.

    Saiu da uti cardiológica

    Porque teve uma melhora

    Foi para UT infecciosa

    Contaminou-se na hora.

    Transferido de UTI em UTI,

    Pega as infecções,

    Tem febre, dores e aí

    Sofre mil limitações...

    Não respira sem aparelho,

    Os seus rins não funcionam,

    Aumenta, então, o medo,

    Pois, os males ali rondam.

    De joelhos, sua mãe orava,

    Pedindo um milagre a Deus,

    A Deus muito suplicava

    Por aquele filho seu.

    Na época, não se contava

    Sobre os acontecimentos,

    A família me poupava

    Para evitar sofrimento,

    Mas eles sofreram tanto

    E meu neto muito mais,

    65 dias de dor e pranto,

    Eles não dormiam em paz.

    Àqueles profissionais

    Quero fazer uma crítica,

    O doente morre mais

    Por atitude pessimista.

    Contaram-me que foram falar

    Com o médico e pedir socorro...

    Ele disse a brincar: "vou cuidar

    Dele como dos meus cachorros”.

    Mas naquele “canil”,

    Faltava consenso entre os “veterinários”,

    Um “achismo” que nunca se viu

    Nem entre simples operários.

    O médico do estômago dizia:

    Acho que o problema é no pulmão,

    O do pulmão insistia,

    Acho que ele não tem razão.

    A família observou

    Que ali havia descaso:

    Um dos doentes enfartou,

    Na solidão do seu quarto.

    Era hora de visita

    E a esposa chegou,

    Não havia sinais de vida,

    E ela, então, se alarmou.

    Correram para buscar

    Aparelho em outra unidade,

    Tentaram lhe reanimar,

    Infelizmente, era tarde.

    A família preocupada

    Outros médicos contratou,

    Mas, na empresa desorganizada,

    O descaso se comprovou.

    Foi marcada uma cirurgia

    E com material pré-pago,

    Mas quando chegou o dia,

    Nada estava preparado.

    Era 28 abril,

    Antes fosse dia primeiro,

    Para dizer que um canil

    Cuida dos cães com mais zelo.

    E neste clima de dor,

    Como atingido por um raio,

    O guerreiro, então, tombou

    Em 24 de maio.

    Desabafo o que estou sentindo

    Pelo meu neto no abandono,

    Sua vida se consumindo,

    Sofreu como um cão sem dono.

    Diante de uma eterna espera

    Pelos humanos cuidados...

    A vida dele se encerra

    E também meu desabafo.

    Poeta Dionisio (avô do Said)

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  4. Meu Pai, o Poeta Dionisio Moreira Gomes, avô do Said, sofreu um grave AVC, ficou vários dias em coma. Ainda está hospitalizado. Não sabemos ainda as sequelas reais, mas, percebemos que ele não perdeu a emoção. O livro da sua vida ainda não está concluído... Sua voz encontra-se presa no Cântaro do seu coração. Quem sabe Deus permitirá que ele drible a morte e para nossa sorte, cumpra sua meta: escreva seu livro e continue sua trajetória de poeta...

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  5. "Mensagem enviada pelo amigo Antonio Calos, de Quixadá"

    Dilailson,

    O material resiliente, resiste até o seu limite, mas nunca volta a sua forma anterior. Nós também, nunca voltaremos a nossa forma anterior, sentimo-nos um pouco deformados apesar de resistir ao impacto.
    Minha prima Claudinha Borges(veradora de Quixeramobim) foi abençoado com uma filha após vários anos de casado e mesmo assim contra recomendação médica, haja vista, o risco de perder sua própria vida era muito grande. mas, como tinha tido somente esta chance de gerar um filho, aceitou o risco.
    A pouco mais de um ano esta única flor(Lorena), de 11 aninhos, veio a falecer subtamente enquanto brincava com as coleguinhas dentro de casa. sem nenhum trauma aparente, deitou no chão e não tornou mais.
    O desespero da perda foi inenarrável. Os pais até hoje prcisam de aconpanhamento médico e remédios controlados.
    A pergunta que todos exegiam resposta. " por que? por que Deus a levou tão cedo?
    Veio-me a mente a homilia que ouví, discrevendo que Deus age como um mestre lapidador. Não entendemos porque ele pega um diamante bruto e aos poucos vai tirando pedaços, lascas, que a nosso olhos, vai tirando seu valor, mas ao final de seu serviço nos deparamos com uma jóia realmente valiosa e com um brilho espetacular.
    Nestes dois casos semelhantes, Said e Lorena, o diamante esta sendo lapidado onde ele estiver e tenho certeza de que Deus em sua infinita sabedoria, usando de suas ferramentas(nós, parentes e amigos), estamos lustrando a pedra bruta. E você, amigo Dilailson, é conhecido por todos como o maior lustrador deste diamante, que foi e sempre será na vida dos que dele fizeram parte.
    Do amigo,
    Antonio Carlos.

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  6. "Comentário do seu cunhado e amigo do Said, Izequiel Ferreira"

    Dilailson,

    Li o texto e relembrei alguns momentos da minha amizade com O SAID. A partida dele deixou marcas em mim. Nunca fui a favor ou me conformei com a morte de alguem jovem. O Said foi quem me estimulou a fazer concursos "irmão, é só você concorrer que você passa". Foi quem me emprestou apostilas, exercicios. Senti e sinto até hoje sua morte. Todas as vezes que vejo uma viatura da PF me lembro dele fardado e da formatura dele em 2004. Acho muito bonito seu ato de pai e amigo não apagar a memoria dele. Conte comigo para compartilhar-mos a dor de sua perda que irá durar até o dia em que veremos ele de novo, como diz a biblia, no Reino de Deus.

    Abraços

    Izequiel Ferreira

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  7. Registramos neste blog o falecimento, hoje, de Dionísio Moreira Gomes aos 87 anos. Seu Dionísio era avô materno do Said Rogers, seu primeiro neto, que agora habita com ele o mesmo túmulo, onde também se encontra Djacir, filho do Sr. Dionísio e, por conseguinte, tio do Said.
    Seu Dionísio foi o que podemos chamar de um homem bom. De uma tranquilidade quase imperturbável, tinha sempre um sorriso pronto, fosse para concordar ou descordar. Atencioso e bom ouvinte cativava a todos. Filhos, esposa, netos e amigos sentirão a perda, mas também orgulho pela convivência que tiveram com ele. Seu falecimento ocorreu a pouco mais de um ano da morte prematura de outro ente querido, nosso inesquecível Said.
    Registramos nessa coluna para homenageá-lo, pois seu Dionísio era poeta e não fosse seu estado grave de saúde, antes mesmo da morte do Said, teria deixado sua contribuição neste blog.

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  8. Não sei por que você se foi
    Quantas saudades eu senti
    E de tristezas vou viver
    E aquele adeus não pude dar...

    Você marcou na minha vida
    Viveu, morreu
    Na minha história
    Chego a ter medo do futuro
    E da solidão
    Que em minha porta bate...

    E eu!
    Gostava tanto de você
    Gostava tanto de você...

    Eu corro, fujo desta sombra
    Em sonho vejo este passado
    E na parede do meu quarto
    Ainda está o seu retrato
    Não quero ver prá não lembrar
    Pensei até em me mudar
    Lugar qualquer que não exista
    O pensamento em você...

    E eu!
    Gostava tanto de você
    Gostava tanto de você...

    Não sei por que você se foi
    Quantas saudades eu senti
    E de tristezas vou viver
    E aquele adeus não pude dar...

    Você marcou em minha vida
    Viveu, morreu
    Na minha história
    Chego a ter medo do futuro
    E da solidão
    Que em minha porta bate...

    E eu!
    Gostava tanto de você
    Gostava tanto de você...

    Eu corro, fujo desta sombra
    Em sonho vejo este passado
    E na parede do meu quarto
    Ainda está o seu retrato
    Não quero ver prá não lembrar
    Pensei até em me mudar
    Lugar qualquer que não exista
    O pensamento em você...

    E eu!
    Gostava tanto de você
    Gostava tanto de você...

    Eu gostava tanto de você!
    Eu gostava tanto de você!
    Eu gostava tanto de você!
    Eu gostava tanto de você!

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  10. Por Que Chora, A Tarde
    Antonio Marcos


    Por que chora, a tarde seu pranto entristece o caminho
    Por que chora, se tem a beleza do sol e da flor
    Por que chora, a tarde sabendo que existe outro dia
    E a alegria depois da tormenta, é dia de Sol

    Por que chora, a tarde no rio salpicando o seu leito
    Por que chora, gritando ao vento angustias e dor
    É que a tarde já sabe que alguém carregou meu carinho
    Eu compreendo que também a tarde, soluça de amor

    A tarde está chorando por você
    Por que assiste a solidão no meu caminho
    A tarde entristeceu junto comigo
    E eu preciso desta tarde como abrigo

    A tarde está chorando por você
    Ela sabe que o amor partiu pra sempre
    Seus passos vão sumindo pela estrada
    E esta chuva faz a tarde tão molhada (2x

    (Outro dia para nós dois será o dia da Ressurreição, ó que alegria!)

    Link: http://www.vagalume.com.br/antonio-marcos/por-que-chora-a-tarde.html#ixzz2SBhfvCgV

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  11. I - Conversando com Deus na UTI
    Em 20.03.2011, meu filho levou um tiro acidental e ficou internado em estado grave na UTI.
    Pedi a Deus que me desse a oportunidade de declarar quão grande era meu amor e Ele permitiu sua ressurreição para nosso encontro.
    Durante 65 dias, conversei com Deus, pedindo pela cura do meu filho... Eu tinha tanto medo de dizer: SEJA FEITA A VOSSA VONTADE...
    Quase não dormia à noite, meu espírito ficava em alerta.
    Quando chovia, relâmpagos e trovões me causavam uma espécie de medo infantil.
    Julgava que raios poderiam cair sobre o seu leito e desligar os aparelhos.
    Foi um tempo de grande atribulação, de suspense, de sofrimento.
    Meu filho lutou muito pela vida. Deus permitiu que ele sobrevivesse o tempo que julgou necessário.
    Mas, numa noite chuvosa, em 24 de maio de 2011, recebi a triste notícia: o guerreiro foi abatido.
    Da janela do meu quarto, olhava para a estranha chuva... Parecia que eram as minhas lágrimas que jorravam em sentido contrário da terra para o céu.
    Na minha dor, quis me arrastar para debaixo da cama como fazia quando era criança e sentia algum medo.
    Queria me esconder daquela dor. Como era noite, imaginava que era um pesadelo. Iria despertar e visitar meu filho ainda vivo.
    Mas era realidade difícil, dolorida, cruel... (continua)

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  12. Últimos Poemas do Avô do Said antes do enfarto que o levou à morte:
    Poema nº 1
    SÚPLICA POR CONSOLO (DIONÍSIO GOMES)
    Naquela noite decisiva,
    Jesus precisava de consolo,
    Era o último dia de sua vida,
    Não podia conter o choro...

    Sentia profunda solidão,
    Necessitava de companhia,
    Mas com grande depressão
    A sua equipe dormia...

    Fique comigo um pouquinho,
    Este cálice é muito amargo,
    Mas continuou sozinho,
    Carregando o seu fardo...

    Gotas de sangue suava,
    Aumentava a aflição,
    Com o Pai Ele falava,
    Desabafando a emoção...

    Se for possível, ó! Pai,
    Passa de mim este cálice...
    Mas se não for, ó! Pai, faz
    A tua santa vontade...

    E Deus Pai muito bondoso,
    Do céu, um anjo enviou
    Para consolar seu filho,
    Provando seu grande amor.

    Eu agora compreendo
    O que sentiu meu Jesus,
    pois, agora estou sofrendo,
    Carregando a minha cruz.
    Morando no hospital,
    Longe das pessoas que amo,
    Muitas vezes, passo mal
    E a Deus também eu clamo.

    Fique comigo, Deus santo,
    Tenha piedade de mim,
    Ajude-me a seguir seu plano,
    E aceitar o porvir.

    Perdoe os meus pecados,
    Minhas dúvidas e minha tristeza,
    Ajude a me sentir perdoado
    E na salvação ter certeza...

    O meu fardo é pesado,
    Preciso de seu conforto,
    Os meus dedos mutilados
    Sinto-me naquele horto...

    Mesmo que eu não seja digno
    Mande um anjo me consolar,
    Em nome de Jesus Cristo,
    Venha também me ajudar.

    Que eu não tema a morte,
    Que eu pense na ressurreição
    Ajude-me a me tornar forte,
    Ouça a minha oração.

    Dionísio Gomes (pai da Escritora Núbia Gomes)

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  13. Poema nº 2
    SÚPLICA POR CONSOLO II (DIONÍSIO GOMES)
    Jesus atravessou o pequeno rio
    E foi para aquele jardim...
    Era uma noite de frio,
    Estava previsto o fim.

    Ele enfrentava a batalha
    Com as suas emoções
    E aos discípulos suplicava
    Solidárias orações.

    Mas eles estavam cansados
    De sono e de tristeza...
    Permaneceram deitados,
    Sem transmitir fortaleza.

    Antes de Jesus ser preso,
    Deus Pai enviou um anjo,
    Para retirar seu medo
    E enxugar o seu pranto.

    Eu aqui também estou triste,
    Da morte também tenho medo,
    Sei que a vida eterna existe,
    Mas não queria ir tão cedo...

    Deus, ajude-me a aceitar
    As decisões na minha vida,
    Que eu saiba glorificar
    A sua vontade divina...

    Não sei quanto tempo tenho,
    Não sei a minha resistência,
    Só sei de todo o empenho
    Do meu Deus e da ciência.
    Já cortaram dois dedos
    De prosa que me restava,
    Ajude-me a vencer o medo
    que tenho desta batalha.

    Poeta Dionio Gomes

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  14. Poema nº 3
    PAIXÃO DE CRISTO (POETA DIONISIO GOMES)
    Na noite da sua prisão,
    Jesus foi muito humilhado,
    Indefeso, sem ação,
    Ele foi torturado...
    Julgamento desumano,
    Testemunhas mentirosas
    Prosseguiam com o plano
    de forma tão venenosa...

    Sendo Ele Rei dos reis,
    Deram coroa de espinhos...
    Nenhum mal Ele lhes fez,Mas eles eram mesquinhos...


    O fogo do ódio acenderam,

    Retalharam o seu corpo;
    Na cabeça lhe bateram,

    Cuspiram no seu rosto.


    Com inveja, eles zombavam

    Do Rei e Profeta divino...
    Ao lhes bater, ironizavam:

    Profetisa quem fez isso.

    Meu sofrimento é grande,
    Porém, mais Jesus sofreu,
    Como é emocionante
    A razão do meu Bom Deus...

    Ele enviou seu único filho
    Para morrer no nosso lugar,
    O seu Santo Objetivo
    É a nós todos salvar.

    Ajude-me a agradecer
    Por tão imenso Amor...
    Peço também a você:
    Ame ao Salvador!

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  15. Poema nº 4

    SÚPLICA POR PACIÊNCIA (Poeta Dionisio Gomes)

    Quando Judas traiu Jesus Cristo
    E Ele foi preso pelos soldados,
    Pedro testemunhou tudo isso,
    E ficou muito irritado...

    Então pegou a sua espada,
    Num gesto desesperado,
    Cortou a orelha do cabra
    Que o tinha algemado...

    Mas Jesus disse: calma!
    Não se resolve assim,
    Tenho que cumprir a Palavra
    Que Deus Pai tem para mim.

    Se eu pedisse ao Pai proteção,
    Exércitos de anjos Ele mandaria,
    Mas o Plano de salvação
    Certamente, não se cumpriria...

    Jesus, com sua mansidão,
    É uma santa influência...
    Peço a sua intervenção
    Para que eu tenha paciência.

    Faz tempo que estou preso
    A uma cadeira de rodas,
    Já nem sei se mereço
    Passar por tão dura prova...



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